O Sagrado Feminino de Jesus
- Claudio Moura Neto
- 4 de set.
- 3 min de leitura
O Sagrado Feminino de Jesus: a Mãe Revelada no Filho
Quando pensamos em Jesus, quase sempre o associamos ao Filho de Deus, à encarnação do Logos, à face masculina do divino. Essa imagem, porém, é incompleta. O Cristo que caminhou pela Galileia não era apenas a manifestação do Pai, mas também a expressão do sagrado feminino de Deus. Nele, Logos e Sophia se encontram; nele, o amor se revela em sua plenitude tanto paterna quanto materna.
O ventre do acolhimento
Jesus não ergueu muralhas, mas braços.
Seu gesto constante foi o de acolher:
As crianças, que se sentiam seguras em seus braços.
As mulheres, muitas vezes marginalizadas, mas que encontraram nele dignidade.
Os pecadores e doentes, que foram olhados não com julgamento, mas com ternura.
Esse movimento de abrir espaço para o outro é profundamente feminino: é o gesto do útero espiritual, que recebe a vida em todas as suas formas e oferece abrigo no silêncio.
O leite da Palavra
As palavras de Jesus não eram frias fórmulas dogmáticas. Eram histórias simples, cheias de sementes: o grão de mostarda, o fermento na massa, a ovelha perdida.
Como o leite materno, sua Palavra se adaptava à fragilidade de quem escutava, nutrindo sem impor peso.
Ele sabia que a alma não cresce à base de leis, mas de alimento amoroso.
As lágrimas da compaixão
O Cristo não teve medo de chorar. Chorou em Betânia diante do túmulo de Lázaro, chorou sobre Jerusalém, chorou interiormente ao ver o sofrimento humano.
Essas lágrimas são a linguagem do feminino: revelam vulnerabilidade, empatia, compaixão visceral.
Não são fraqueza, mas a força materna que sente a dor do outro como se fosse própria.
O parto da cruz
No alto da cruz, Jesus não apenas morreu — ele pariu uma nova humanidade.
Do seu corpo jorraram sangue e água, símbolos profundos de vida, nascimento e purificação.
A cruz, que parecia ser apenas instrumento de tortura, tornou-se o útero cósmico onde, em dores de parto, o Cristo deu à luz uma nova possibilidade de ser: a humanidade reconciliada com Deus.
Logos e Sophia
No pensamento bíblico e na tradição sapiencial, o Logos representa a razão, a palavra criadora, o princípio ordenado — geralmente associado ao masculino.
A Sophia, por sua vez, é a Sabedoria, a beleza oculta da Criação, o princípio intuitivo e nutridor — associado ao feminino.
Em Jesus, Logos e Sophia não estão separados. Ele é o Verbo feito carne, mas também a Sabedoria encarnada. É o Filho que mostra o Pai, mas também a Mãe que revela a face oculta do Amor.
A mãe revelada no Filho
Assim, o Cristo não é apenas o Salvador que ensina e corrige. Ele é também a Mãe espiritual da humanidade:
Nutre com sua palavra.
Acolhe em seu coração.
Chora nossas dores.
E, pela cruz, nos dá à luz para uma vida nova.
Reconhecer o sagrado feminino de Jesus é recuperar a totalidade de sua missão. Ele não veio apenas trazer a força do Pai, mas também a ternura da Mãe. Ele é o rosto completo do Amor divino — que é ao mesmo tempo paternidade e maternidade eternas.
✨ Ao contemplar Jesus sob essa luz, não apenas encontramos um Mestre. Encontramos o Filho que nos amamenta de vida, o Irmão que nos acolhe no seio, e a Mãe que, em dores de parto, nos gera para a eternidade.
Comentários